terça-feira, 1 de novembro de 2011

Mulher viciante

Existe em mim uma lembrança que ainda perdura, excessivamente querida para ser lembrada, quanto mais para ser relatada, mas este sentimento invade-me a alma e é impossível deixar de o descrever. É a tua lembrança. E sei que, por mais que tente, vou tentar em vão, descrever aquilo que aos meus olhos foi demasiado perfeito.
Eras simples, no teu jeito de ser e fisicamente eras, de certo modo, uma mulher de estatura média. Relembro a magistralidade do teu andar pelos campos dourados que te via percorrer. E, de uma maneira tão complexa, que não posso compreender, revejo em ti a excelência dos seres mais extraordinários. Deleitava-me com as tuas enormes qualidades, que só podiam ser vistas por quem realmente te amava, quando fazias com que a tua presença fosse despercebida mas que a tua ausência fosse sentida. Entravas e saias como uma sombra através da formosa dança que te elevava sobre as águas. E, tão repentinamente como o crepúsculo, voltavas a correr para a minha companhia, onde me acariciavas ao som da tua doce voz. Retiro da beleza do teu rosto a meta que nenhuma princesa alcançou. Tinha o esplendor do pôr-do-sol na visão etérea da mais louca e improvável divindade.
Mas na beleza excessiva e perfeita que carregavas, havia uma falha mínima, uma estranheza, que era o facto de ser inconcebivelmente pura e viciante. Fui cativo do mais puro marfim que constitui a tua pele e também, prisioneiro da ondulação natural e exuberante dos teus cabelos. Nunca, outrora, fora tão cativado por algo tão fútil como a beleza de uma mulher, mas agora, as circunstâncias mudaram, muito graças aquele teu olhar e aquele teu sorriso. Oh! Aquele sorriso… Lembraste? Lembraste da minha enorme insistência para te fazer lembrar da beleza do teu sorriso? É provável que te lembres, como te poderias esquecer!? E era aqui, na tua boca, que eu encontrava a prova de existência de seres celestiais dotados de perfeição onde cada curva dos teus lábios fazia de ti a mais radiante estrela.
Mas é sobre este pensamento que - com mais frequência que desejaria - me debruço constantemente. Sou engolido pelo irresponsável pensamento da tua divina beleza. Pensei que finalmente a tinha perdido no tempo, enquanto por lá deambulei, mas o vento, o meu constante inimigo, esmera-se em trazê-la sistematicamente para mim. E nesta situação ofereces-me, inconscientemente, a bênção e a maldição onde me crucifixo. Sou concebido pelo pecado de te querer, mesmo sabendo que é errado, torno-me egoísta por querer amar algo que não pode ser amado. E tudo graças à tua beleza! Fútil beleza! Fútil não… viciante.